No dia 27 de abril, suspendi a minha atividade profissional por tempo indeterminado. Hoje, cerca de 3 meses e meio depois, partilho contigo o que me motivou a fazê-lo e tudo o que aprendi durante este período.
"Desligarmo-nos do mundo não consiste em virar as costas ao que nos rodeia, mas o oposto; é ver o mundo mais claramente, mantendo o rumo e tentando amar a nossa vida." — Erling Kagge
Em janeiro de 2016, deixei para trás uma carreira de investigação científica em farmacologia, na Bélgica, e regressei a Portugal. Porquê? Porque me sentia pequenina na caixa “cientista”. Rapidamente percebi que precisava de encontrar um novo caminho profissional e decidi continuar a explorar a área da saúde, que ainda hoje me fascina, mas noutra vertente: a da prevenção. Pesquisei por formações em várias áreas, sendo que o Ayurveda ressoou logo comigo. Findos 2 anos de estudos, eu tinha um diploma que me intitulava Consultora e Terapeuta de Ayurveda. Independentemente da área que eu tivesse escolhido, o nome Star Glow já estava pensado há muito tempo, porque Star Glow representa a minha essência, ou melhor, a essência de qualquer ser humano neste planeta.
“Somos todos feitos de poeira de estrelas.” — Carl Sagan
Passados 3 anos, dou por mim a sentir-me outra vez pequenina, mas desta vez na caixa do Ayurveda. Havia tanto que eu queria partilhar, tantas ferramentas que, complementadas com o Ayurveda, exponenciavam a consciência corporal, o compromisso pessoal e, acima de tudo, o equilíbrio com a Natureza. A saúde é um processo recíproco entre nós, seres humanos, e a nossa casa, o planeta Terra. E se tentarmos dissociar as duas coisas, nunca encontraremos a verdadeira cura.
Comecei, então, a arriscar. Conteúdos relacionados com desenvolvimento pessoal e espiritual começaram a surgir cada vez mais nas minhas redes sociais. Não imaginas como eu me sentia livre a partilhar o nascer do sol, as árvores, os ensinamentos das plantas e as minhas próprias aprendizagens nesta viagem de vida. Quando uma das pessoas responsáveis pela criação do meu website me diz que eu tenho de me focar no Ayurveda sob pena de cair no ranking de resultados do Google, eu senti-me outra vez pequenina. Foi um misto de revolta e frustração dentro de mim, como se me tivessem voltado a colocar numa jaula. Espero que entendas que eu adoro o Ayurveda, que o uso diariamente na minha vida e que quero continuar a ensiná-lo como a ferramenta poderosíssima que é no conhecimento e compreensão do nosso corpo. Mas eu não sou só Ayurveda, eu sou tudo o que a minha alma precisa que eu seja em cada momento. Na maioria das vezes, sou uma pessoa alegre, com um sorriso sempre disponível, que gosta de cantar e de partilhar tudo o que vai aprendendo. Naquele momento específico, em abril, senti-me uma mulher fragmentada, inadaptada e completamente perdida neste mundo.
Segundo o Ayurveda, o vazio (éter) foi o primeiro elemento do Universo, no qual tudo o que conhecemos foi criado. É caso para dizer que o vazio tem muito potencial. Assim, em abril, decidi que ia mergulhar no vazio e procurar dentro de mim a resposta às questões:
Aprendi que a busca por estas respostas dura uma vida inteira, porque nós somos impermanentes. O nosso propósito vai-se alterando à medida que evoluímos. Outra coisa que aprendi foi que, qualquer que seja o motivo pelo qual estou neste mundo e o que quer que seja que eu quero partilhar neste momento, começa dentro de mim:
Qualquer que seja o teu parceiro, a tua família, a tua profissão ou o teu desafio neste momento, o trabalho começa dentro de ti. Depois deixa fluir e vê o que acontece. Tudo se encaixa. Todas as sementes germinam onde encontram solo fértil. Assim acontece comigo, contigo e com todos os seres vivos.
Já pensaste o quão pobre seria o mundo se nos limitássemos a transmitir uma determinada disciplina apenas como consta nos livros? O mundo precisa da nossa contribuição individual, de cada um de nós! Por que outra razão o planeta Terra estaria disposto a alojar mais de 7 biliões de seres humanos? Eu acredito que, seja de que forma for, todos temos um contributo individual a dar. Eu sinto que este é o meu e sei que não vai agradar toda a gente, mas eu preciso de me sentir inteira para ser feliz.
Outra lição importante deste período de interregno, foi a de desfrutar a viagem sem pensar muito no destino. Em julho deste ano, dei o meu primeiro concerto a solo. Cantei quatro peças que me apaixonam e algumas foram escritas antes de eu nascer. Estava obviamente nervosa, afinal era a minha primeira vez em palco sem o apoio de um coro. Desafinei várias vezes e não entrei no tom certo noutras tantas, mas diverti-me tanto. Senti-me levitar. Ah, como eu gosto de cantar! Faças o que fizeres, entrega-te à experiência e desapega-te do resultado. É isso que levas desta vida. Gravei a minha atuação para mais tarde recordar. Se quiseres assistir, segue este link.
Antes de terminar, quero dizer-te que se te sentes sozinho(a) e a navegar sem rumo no vazio, deixa-te ficar aí o tempo que precisares. É nesse aparente vazio que encontras todas as respostas que procuras. É quando dizes que queres desistir que a tua alma te aponta o Norte. É quando te despes de tudo aquilo que é suposto seres que finalmente abres os olhos e vês o ser magnífico que és.
Tu e eu, somos poeira estelar.
Obrigada por tudo,
Mafalda
A informação apresentada é meramente informativa, de índole genérica, não contendo uma análise exaustiva de todos os aspetos dos temas analisados, pelo que não substitui aconselhamento especializado.
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Fotografia do meio por Christopher Windus.