Quando finalmente conseguimos alinhar a rotina e preparar as refeições da forma mais saudável, vem um aniversário, um casamento ou uma almoçarada com os amigos. Estes eventos não têm de ser sinónimo de catástrofe alimentar – devemos abraçá-los com amor porque ter amigos é um ingrediente essencial na receita da felicidade. Onde quer que vás, é possível teres uma digestão minimamente equilibrada, basta que faças a tua escolha atento(a) aos alimentos mais indicados para ti e que recorras a alguns truques de alimentação ayurvédica. Neste artigo apresento-te três plantas que vão mudar as tuas idas ao restaurante para sempre.
Na mitologia grega, Afrodite, a deusa do amor, terá criado os orégãos como símbolo de felicidade. Na Idade Média, esta planta aromática era muito utilizada, em várias culturas, para fins medicinais – mascavam-se orégãos frescos para tratar doenças como o reumatismo, odontalgia (dor de dentes), indigestão e tosse.1 Nos tratados ayurvédicos há, inclusivamente, referências desta planta como antídoto para veneno de escorpião2.
De sabor picante e ação quente, os orégãos estimulam o agni (fogo digestivo) e, por isso, aumentam o dosha pitta e pacificam os doshas vata e kapha. Têm um efeito carminativo (reduzem a flatulência), expetorante, pois eliminam o excesso de muco, antibacteriano e, ainda, emenagogo (promove a menstruação em casos de amenorreia, por exemplo). É fácil perceber porque é que Afrodite atribuiu a esta planta o simbolismo da felicidade.
De todos os alimentos, as gorduras são particularmente difíceis de digerir. É aqui que entram os orégãos com o seu fantástico poder digestivo e antioxidante. Esta planta foi a minha salvação no Reino Unido – felizmente quase todos os pubs, além de comida gordurosa, têm também orégãos. Da próxima vez que fores degustar umas tapas, experimenta pedir orégãos à parte. Dá um toque pessoal à tua refeição, ensina os teus amigos e tem uma digestão feliz.
Estima-se que esta planta aromática, tão característica da cozinha italiana, seja cultivada e apreciada, em todo o mundo, há mais de 5000 anos3. Da Índia para o Egito, onde era usado no processo de mumificação, o manjericão tem sido valorizado ao longo dos tempos não só pelo seu sabor aromático como também pelas suas propriedades medicinais.
Os efeitos desta planta maravilhosa no trato gastrointestinal são imbatíveis: é aperitiva, digestiva e anti-helmíntica, ou inimiga de uns certos parasitas intestinais. Além disso, tem propriedades diuréticas e purificadoras do sangue – o complemento perfeito dos sumos verdes. Os antigos usavam ainda o manjericão fresco como desodorizante, cuja eficácia se deve essencialmente ao seu poder antibacteriano.4
Se sofres de flatulência habitualmente após a refeição, o manjericão pode ajudar. Na tua próxima visita a um restaurante italiano, por exemplo, experimenta mastigar umas folhas na vez da sobremesa – não só ficarás com um hálito mais fresco como também estimularás o teu agni, promovendo, assim, uma digestão mais eficiente, e sem gases.
Contando como uma das principais produções agrícolas da Guatemala, o cardamomo está, atualmente, acessível em praticamente todo o mundo. Estima-se que seja uma das especiarias mais antigas na história da humanidade e, curiosamente, teve as suas origens no sul da Índia.5 Os sábios ayurvédicos reconheciam o seu poder digestivo e equilibrante, e também a sua eficácia na limpeza dos dentes. Além disso, a sua fragrância era bastante apreciada pelos romanos na perfumaria.
Para o sistema digestivo, o cardamomo está como a acendalha para a fogueira – acende o fogo num ápice. Por isso, se fazes digestões mais lentas, talvez seja amor ao primeiro grão. Se, por outro lado, costumas digerir rápido as tuas refeições, arrisco dizer que não vão ficar grandes amigos. Mas não te preocupes porque, se for esse o teu caso, também não vais precisar de cardamomo. Porque não experimentas esta especiaria de sabores doce e picante? É que para além de reduzir a flatulência e estimular a secreção de bílis, o cardamomo é um excelente antiemético (evita os vómitos), expetorante e hepatoprotetor, isto é, muito amigo do teu fígado4.
No dia-a-dia ou nas férias, o cardamomo é super fácil de transportar, não fica retido nos controlos de segurança e não apodrece facilmente. Eu tenho sempre um frasquinho com umas sementes na mala e, quando a refeição envolve laticínios ou pão fermentado, mastigo dois a três grãos no final. Se bebes café, pode ser interessante saberes que o cardamomo reduz os efeitos da sua acidez no organismo6.
O objetivo deste artigo não é arranjar soluções para uma alimentação inconsciente, mas sim facilitar a aplicação dos ensinamentos ayurvédicos mesmo nos dias em que tal parece impossível. Conhece o teu corpo e escuta-o. Escolhe os teus alimentos criteriosamente, mesmo quando comes fora de casa. Há sempre uma alternativa, basta seres a tua prioridade.
Com amor,
Mafalda
A informação apresentada é meramente informativa, de índole genérica, não contendo uma análise exaustiva de todos os aspetos dos temas analisados, pelo que não substitui aconselhamento especializado.
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1 - The History of Oregano, disponível em myspicer.com
2 - Bhavaprakasha of Bhavamishra, mais informação disponível em books.google.pt
3 - The History of Basil, disponível em thespruceeats.com
4 - Indian Medicinal Plants, mais informação disponível em books.google.pt
5 - The History of Cardamom, disponível em myspicer.com
6 - The Yoga of Herbs, mais informação disponível em books.google.pt